Oleh Shaposhnikov
Tradução: Volha Yermalayeva Franco
***
FÊNIA
“Chegaram
Correndo.
Atacando,
Canalhas – contentes…
Quem são?” – os pergunto.
“Adivinhe aí, sua velha”.
A ardósia no teto, quebrada, – caíram projéteis,
No mau tempo, água suja escorre da telha.
Na parede, molduras com fotos e um fino bordado
Do vetusto Taras. Uma mesa com perna quebrada.
Vovó Fênia é rica: tem duas latas de carne, um soldado
Deixou-as aqui, com a metade esquerda da cara queimada.
O vento nina um balde torto ao lado do poço.
Um cachorro felpudo vagueia nas ruas, sem nome.
Vovó Fênia tira da estante um livro anoso
E lê devagar à janela o Salmo cento e nove.
***
A moeda brilhante do sol está rindo, de longe,
A passarada grita – ninguém aguenta ficar calado.
A loba sábia e séria, na sua toca se esconde
E pondera; os filhotes cochilam ao seu lado.
As ervas miram o céu e perdem seu pólen,
Um gafanhoto anônimo toca seu violino,
Um cogumelo com agulhas de pinheiro se cobre
E as codorninhas pequenas piupiam no seu ninho.
Não foi o arado que lavrou o campo nessa primavera.
O vento seco sacode a franja do invasor que desbota.
Um leitão com olhinhos fofos, ao ouvir a bomba à vera,
Pula para a blindagem dos soldados
E se esfrega
Na sua bota.
***
Nos vagões, gemidos e batimentos.
Bolsas e sacolas, na mente.
A garota, para a boneca em lamentos,
Faz um curativo: “um pouco aguente”.
Jeová em silêncio, as nuvens escurecidas.
Só a cerejeira floresce com vaidade
As almas das crianças não nascidas
Vagam nos corredores da maternidade.
Noite boba,
Olhos sem descanso,
Milhares de famílias em luto.
As máscaras caíram – de todo caso,
Não somos “o mesmo povo”
que esse puto.